sexta-feira, 28 de junho de 2013

Dupla se inspira no videogame e leva a bola oval para o 'bando de loucos'.

Tudo começou em 2006, em um quarto de uma casa em Diadema, na região do Grande ABC Paulista. Sentados em frente a uma televisão, Caue Martins e Paulo César Santos, o Paulinho, tentavam se entender com um novo jogo de videogame. No início, o esporte diferente deu trabalho. Mas, aos poucos, adaptados aos comandos, criaram um novo vício. Com os olhos atentos, sequer cogitavam mudar de posição. Depois, porém, ao levarem o futebol americano para a rua, os dois deram o passo fundamental para novos tempos. O time de bairro, anos mais tarde, se tornou a melhor equipe do país, o Corinthians Steamrollers, e apresentou o esporte a um bando de loucos espalhados por São Paulo.

Pouco depois de descobrir o jogo no videogame, Caue ganhou uma bola de futebol americano de presente de aniversário. Nos dias seguintes, trocou passes com Paulinho na rua de casa. Logo, a brincadeira atraiu outros amigos, e o espaço ficou pequeno. O grupo começou a jogar em um campo alugado em Diadema até que, em 2006, um dos garotos inscreveu o time no campeonato paulista. Ali, com as cores do Oakland Raiders, nasceram os Steamrollers, pedra fundamental da equipe atual. Depois de uma parceria com o Corinthians, o time cresceu, conquistou dois campeonatos nacionais, três estaduais e se firmou como maior referência de um país que ainda descobre o esporte.


Paulinho e Caue são os fundadores da equipe de futebol americano do Corinthians (João Gabriel Rodrigues)
O Corinthians Steamrollers não perde há 36 jogos. Com a invencibilidade e as conquistas, a equipe começa a atrair o mesmo fanatismo da torcida do futebol tradicional.
- Eles sempre incentivam, acompanham. Ainda mais quando tem torcida organizada – garante Caue, quarterback de 22 anos.
A dupla se impressiona com a rapidez que uma pequena equipe de Diadema teve para chegar ao topo. Lembram o tempo que jogavam na rua até conquistar o apoio de uma das maiores equipes do Brasil.
- Todo dia chegávamos da escola e ficávamos lançando um para o outro. E todo dia aparecia mais um amigo. Quando fomos parar para ver, depois de uns dois ou três meses, já eram 20 moleques indo para a rua lá de casa para se baterem (risos). Depois disso, vimos que a rua ficou pequena e resolvemos alugar um campo. Toda sexta, acabava a aula, pegávamos o ônibus e íamos para lá. E ficávamos a tarde inteira jogando – disse Paulinho.
- Foi tudo muito rápido. Um amigo nosso juntou a galera e disse: “Tenho um comunicado para dar para vocês. Estamos no campeonato”. Até então, não tínhamos nome, uniforme, nada. Em pouco tempo, fizemos tudo. E, de cara, no primeiro campeonato, já fomos para a final. Éramos os moleques de 15, 16 anos, contra os marmanjos, e fomos para a final. E começou a dar uma visibilidade maior – completou Caue.
O primeiro campeonato foi no susto. Mas, ao firmarem a parceria com o Corinthians, tudo mudou. Passaram a treinar todas as quartas no Parque São Jorge, das 21h às 23h. Os Steamrollers têm dois americanos no elenco, além de um argentino e de Marco Nessi, técnico italiano. Com a chegada do ator Alexandre Frota, atraíram ainda mais os holofotes. A estrutura, dentro do Brasil, é uma das melhores, mas ainda a anos luz de distância do nível da NFL. No time, nem todos recebem salário. A maior parte precisa trabalhar durante o dia para conseguir se manter na equipe.
- Nosso timinho virou uma coisa séria. Quem quer investir num sonho precisa investir muito. Infelizmente, futebol americano é assim. Toda a estrutura que a gente vê quando os nossos jogos são transmitidos, pensam que nós somos profissionais. Mas nossa grande dádiva é ter de gastar muito menos que do que todos os outros times gastam. Pessoal tem de bancar hotel, transporte, tudo. Hoje, aqui no Corinthians, a gente não precisa se preocupar com mais nada – disse Caue, que tem uma empresa em sociedade com o pai.
Paulinho, que atua como wide receiver, tem 21 anos. Técnico em administração, trabalha como bancário e costuma sair da agência direto para os treinos. O sonho, ele diz, não é viver apenas do futebol americano.  Quer apenas que o esporte consiga se firmar no país.

Time do Corinthians Steamrollers treina no Parque São Jorge (Foto: João Gabriel Rodrigues)
- Meu sonho pessoal não é ser campeão nacional dez vezes. Quero, quando eu tiver 50 anos, ver o futebol americano consolidado no Brasil. Não vou falar que vai ser uma paixão nacional do brasileiro, eu sei que não. Mas quero que tenha uma estrutura como a do vôlei, que tem uma liga profissional e que sempre vai ter base. Meu maior receio é quando nós, que estávamos dispostos a dar nosso sangue, pararmos, o futebol americano parar também – disse.
O Corinthians Steamrollers volta a campo pelo Torneio Touchdown neste sábado. A equipe, que venceu a primeira partida, encara o Campo Grande Gravediggers, às 14h, em Leme, no interior de São Paulo.

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